Parte 1 – A economia e os mercados

Para quem já morou por outros lados, Portugal é um país de sonho. Os seus grandes defeitos são a economia e as burocracias.

Melhor ou pior, as burocracias fazem parte da vida em qualquer lado. Se não tivermos o azar de nos vermos embrulhados em problemas legais, vamos vivendo com elas. Já a economia Portuguesa é uma parte fundamental do nosso dia a dia. Incluindo os ordenados baixos, e as rendas altas. E de quem é culpa? “Dos patrões e dos senhorios, claro!”

Talvez devido a deficiências do sistema educativo e a uma democracia jovem, nascida de um fascismo que deliberadamente promovia ignorância, muitos Portugueses não compreendem factos económicos que são relativamente óbvios para a maioria dos europeus. O patrão e o senhorio são apenas mensageiros do mercado. E não adianta dar tiros no mensageiro.

As rendas são definidas por dois fatores: oferta e procura. Há pouco mais de uma década a empresa Alert começou a expandir rapidamente – e o ordenado médio de um engenheiro de software no Porto subiu 50 a 100€ num curto espaço de tempo. O chamado “efeito Alert”, foi causado por um brusco aumento na procura de engenheiros. Mesmo quem não queria trabalhar para a Alert estava a renegociar salários e a beneficiar do seu novo valor.

As rendas elevadas em Lisboa e no Porto estão a ser provocadas por um enorme aumento da procura de habitação, e do poder de compra de quem a procura. Compreendendo estes fatores, alguns erros tornam-se óbvios. O programa Porta 65 procura subsidiar jovens à procura de habitação. Este subsídio vai aumentar a procura, o que vai aumentar os preços. A intenção é claramente boa, mas a medida é mal pensada.

Vamos pensar num caso simples em que temos 5 jovens a disputar 4 habitações disponíveis.

Não havendo outras habitações disponíveis (com as características desejadas), os 5 vão competir. Quem se vê sem tecto vai tentar oferecer melhores condições desde que o consiga, e o mercado vai ajustar-se até a procura igualar a oferta. Ou seja, até que um dos cinco decida que afinal vai partilhar casa, ou vai ficar uns tempos em casa dos pais.

O fenómeno contrário é um mercado em que apenas 4 pessoas estão à procura, e há 5 casas disponíveis. O senhorio que se vê com o apartamento desocupado vai descendo o preço ou melhorando as suas condições. Afinal, um apartamento vazio só lhe dá despesas. Eventualmente o mercado ajusta-se novamente. Alguém decide que tendo encontrado aquela renda prefere um apartamento em vez de um quarto. Ou decide sair de casa dos pais.

De uma forma simplificada, é isto que acontece todos os dias nos mercados de arrendamento. Quem tem apartamentos vazios tenta arrenda-los melhorando as condições que oferece. E quem não arranja onde morar vai aumentando ao orçamento disponível, procurando mais longe, ou arranjando alternativas (como partilhar casa).

Este artigo é parte de uma série. Parte dois aqui.

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